sexta-feira, 17 de julho de 2009

Morrer

Não sei como é morrer, mas sei como é sobreviver após uma morte. A palavra é essa mesmo: sobreviver.

A morte (e não é aquela do Maurício de Souza, não).
No primeiro momento a sensação é de que aquilo não está acontecendo, que é um sonho, que tudo vai mudar. A pessoa vai te ligar e dizer que é tudo uma brincadeira.

Depois a ficha começa a cair e você pensa que nada mais daquilo que você planejou faz o mínimo de sentido. Tudo cai por terra e fica o pensamento: o que vai ser daqui pra frente?

Aí vem a prova de fogo: caixão, cemitério, velas, choro, lágrimas, pessoas chorando, enterro, velório, corpo dentro do caixão.
Somos humanos e temos sentimentos então não conseguimos pensar que aquela pessoa que está dentro do caixão não tem mais vida, que é apenas um corpo, que seu espírito (sua vida) não está mais ali, é apenas carne e osso. Impossível.

Errei, a pior cena é o sepultamento, sim, colocar aquela pessoa trancada dentro do caixão em um buraco na terra. Como!? Essa pessoa estava do meu lado outro dia e agora está alí dentro!? Não, não pode, é mentira.

Ok, acabou, vamos pra casa. E agora? As roupas, os pertences, as fotos, o perfume em cima da pia do banheiro, a escova de dentes, os sapatos. O cheiro pela casa. O que fazemos com tudo isso?

Agora tem o cartório. Sim, quando nascemos fazemos a certidão de nascimento, que felicidade, mas quando morre-se alguém precisa fazer a certidão de óbito. Quem? Pega o laudo no hospital pra colocar no atestado o motivo da morte. Isso mesmo, a pessoa que você tanto ama - que antes era um corpo dentro de um caixão - agora é um pedaço de papel com nome e nome da doença.

Sentimento? No começo insanidade: perde-se a noção de data, hora, nomes, tudo. Depois dor. Muita dor. Uma dor lancinante. E não é no sentido figurado não. Dói mesmo.

Depois de muito tempo a dor passa a ser saudade. Mas não uma saudade alegre não. Uma saudade doída, que incomoda. Lembra do perfume, do cheiro, do creme de barbear!? Então, todos eles te remetem a coisas boas e isso ainda dói.

Hoje? Hoje a saudade ainda dói, mas dói mesmo. Quantos percursos de casa pra trabalho e do trabalho pra casa não foram encharcados de lágrimas e soluços. Mas já dá pra segurar a onda e lembrar das coisas boas e dar sorrisos, mesmo que retesados, mas já dá pra segurar a lágrima e deixar ela pra o percurso diário pra o trabalho.

3 comentários:

  1. Jú... descobri há pouco tempo que pessoas morrem de forma diferentes... e é verdade, dói mesmo, na carne, não é sentido figurado. Eu compartilho da sua dor (apesar de achar que a sua dói mais). Te amo amiga!

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  2. Dói não.
    Todas as dorem doem, cada um sabe o tamanho da dor e o tanto que ela dói. Infelizmente não podemos compartilhar dor com niguém. Dor é só a gente que sente e sabe o tamanho dela, mesmo!
    Love you to!

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  3. nossa, to sem palavras, dona juliana mala medeiros!!

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